quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Nuvem é tipo amor
Parece triste pela cor
Mas quando o cinza desce
O que é verde envivece
O mundo se enche de flor

Jadiel Lima

Na minha

Meu pandeiro é minha cachaça
Pode parecer sem graça
Mas é tocando que eu sinto a diversão

Eu tocando meu pandeiro
Faço esse bar inteiro
Se empolgar numa canção

Olha, tanta gente se estraga
Pra se acabar ou tirar mágoa
Não vejo futuro não

Mas não é a bebida que faz isso
É o coração omisso
Ao amor e à emoção

Meu pai sempre bebeu
Nem por isso me bateu
Adoeceu ou passou mal

Aliás, olha que vida:
Me ensinou que a bebida
Só ajuda o seu astral

Então, cada um vai vendo a sua
Com cuido vem pra rua

Vai começar o carnaval!

Jadiel Lima, 15 de jan 2014.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Pica

início de 2012

Pica pra arte que complica
ditadura e seus afins
Pica pra cultura esnobe
que exclui os bons e acolhe os ruins

Não, não venha me dizer
que é questão de opinião
Pois sei que a panelinha quer
nos colocar no caldeirão

Pica, eu sei que eles gostam
e se lambuzam atrás do muro
Mas um dia eles se rebelam
desse orgasmo sem-futuro

Pica, picada, picareta,
picolé, pica-pau
Pica ansiando dar carinho
Para quem lhe trata mal

A FRUTA

novembro de 2013

Eu fui naquele pé
Ver se tinha sapoti
Mas o bixo era alto
E não consegui subir

Também fui no cajueiro
Mas só tinha caju ruim
Quando parecia inteiro
Era mordido do soím

Arrudiei todo esse mato
Como quem pede esmola
Não achei nem tangerina
jambo, manga ou acerola

Fui no pé daquela moça
E lhe disse minha dor
Estendeu as suas mãos
E me deu foi uma flor

A flor murchou e virou fruta
A fruta a gente comeu
E da semente que plantamos
Foi nosso amor que nasceu

Crianças

Tem aquela galera que dá graças à Deus pelo que faz, né? "Na verdade essas coisas que eu faço vêm de Deus, eu apenas as executo...". Dizer isso é mais audacioso do que assumir as coisa que faz – pô, o que eu faço são criações divinas! Já tem os que desprezam o que fazem, à procura de um elogio que supere a falsa expectativa:
_Olha o que eu fiz, tá uma merda, né?

Dá vontade de dizer:
_Você tem que cuidar das coisas que cria. Você não gosta das coisas que cria?
_Gosto...
_Então?... As coisas que você cria vêm de vários cantos. Quando não são de ninguém é por isso que elas são suas. Você tem que fazer as coisas serem de ninguém. Como se faz isso? Misturando-as, nas mais diversas matizes. Quanto mais misturadas, mais de ninguém elas serão. E quanto mais de ninguém, mais de todos elas serão. – Já me disseram isso, na verdade. “Você é responsável pelas coisas que cria”. Eu até briguei com ele, por não entender. Ele tava me falando de arte pública.

A arte pública é tão esperta. Ela sabe brincar com vários e diversos. Porque ela chama pra brincar junto. Já ouvi outra pessoa dizer também que "o ator de rua é diferente do de teatro burguês. O ator de rua não é bom quando é virtuoso. É bom quando provoca as pessoas a fazerem teatro junto com ele". Acho que foi algo assim que meu velho estava conversando com o véi-do-cabelo-branco. Velhos jovens, criadores do Movimento Escambo Livre de Rua, movimento de quem quer ser dele.

E é na brincadeira. Eu só sei criar quando brinco. Quando desperto minha criança e vou fazendo e cuidando as minhas crianças  seres de se criar. A gente cria brincando e cuidando.

Se eu só fiz uma coisa, eu tenho que cuidar é dessa. É que nem uma pessoa. Se só uma pessoa quis ser sua. Pô, só tem ela. Ela é a única opção e a única chance. Chance de quê? Aí depende da sua verdade. Mas o desprezo é sempre mentira. É ignorânça. Não é aprendizado. Gostar se aprende, convívio. Se você tá esquentado, deixa ela começar a te provar pelos cantos. À mostra, camada por camada vai esfriando junto com a atmosfera. É tipo comer uma canjica (obs: quando servida num prato). Bem quentinha, a gente começa pelas beiradas.

E você faz o mesmo. Tanto pra ela quanto pra você, é a única chance de se fazer realizar. E não se engane: se são várias, é uma de cada vez. “Uma graça de cada vez”, ensina o palhaço. O cérebro humano é assim. Quem sabe um dia eu encontre um paradoxo que valide o ‘ménage’. Deve ser só fetiche mesmo...